segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Subindo a Montanha, da minha amiga Beatriz Lobo

Quando quero te encontrar, paro tudo e me escondo em um lugar seguro, onde posso soltar meu corpo sem me preocupar. Deixo com cuidado, o meu corpo ao pé da montanha é o primeiro passo que preciso dar para te ver, preciso me desprender da matéria, de todo o peso que me impede de subir. À medida que escalo a montanha, vou deixando os pensamentos que me afligem, uso cada um para servir de apoio na minha escalada, finco-os na montanha e os uso como degraus, uso minhas tristezas, minha ansiedade, desesperança, inimigos e assim vou ficando mais leve, também deixo as pessoas que me pedem oração, minhas alegrias, meus entes queridos, meus sonhos e desejos.

Quando me sinto vazia, entrego meu olhar, meus pensamentos, meus sentidos, mergulho no silêncio ......... chego ao topo da montanha, desejosa em te ver e sentir seu amor. Vejo-O sentado em seu trono a me esperar, seus olhos se alegram ao me ver, estende sua mão, seguro firme. Seu olhar é puro, seu sorriso é infantil, sento-me aos seus pés e abro meu coração, quero levar em mim tudo o que diz e o que vejo. Tenho sede de Ti e não me canso de vir aqui, cada vez mais me vejo dependente do seu amor.

Na hora de voltar, preciso confessar que às vezes não quero voltar, mas sei que é preciso seguir e sei que ao final do caminho estará a me esperar. No alto da montanha é onde me abasteço para continuar a caminhada. Desço em um salto, visto meu corpo e vejo que nada ao meu redor mudou, às vezes as situações estão piores que quando parti, mas sinto que meu coração está fortalecido para viver o que tenho de viver. Não sei o que vai acontecer, só sei que me revisto de coragem e dou o primeiro passo e então tudo vai se transformando, portas vão se abrindo e vou caminhando confiante, seguindo a sua voz que palpita em meu coração.

E sei que sempre que precisar, estará aí no topo da montanha a me esperar.

Obrigada, Senhor!

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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Homem Peru Tonto, de Beatriz Lobo

Em todos os períodos de férias escolares, desde os meus 5 anos, íamos para o sul da Bahia, onde meu pai tinha uma fazenda. Lá, ficávamos numa casinha simples feita de barro com janelinhas de madeira. Na frente, algumas flores, banquinhos de madeira, uma árvore linda. Lembro-me de ficar sentada ali em um daqueles banquinhos algumas horas, às vezes até me deitava, admirando o vento balançando a copa da árvore, a paisagem que era linda e à noite as estrelas que inundavam o nosso céu. Ali naqueles banquinhos também ouvíamos os causos de quem lá vivia. Na parte de trás da casa, ficava a cozinha com fogão a lenha, uma janela que se abria para o quintal e o pomar. A casa não tinha forro, podíamos ver as telhas. O banheiro ficava fora da casa. A casinha tinha dois quartos, ficávamos todos num quarto, meu pai, minha mãe e os cinco filhos, todos juntinhos ali. No outro quarto ficava seu Expedito e dona Nega, que lá moravam. Seu Expedito usava chapeuzinho de couro e carregava na cintura um cinto engraçado, onde pendurava, um facão, um canivete e outros apetrechos. Dona Nega, hoje causaria inveja em muita mulher por ai, era magrinha e toda musculosa e estava sempre de vestido, era muito ativa e conversadeira.
Em um desses verões, a camionete mal estacionou, pulamos logo da carroceria, corremos todos para o quintal, direto ao pé de amora, quem era mais alto levava vantagem, eu e a Raquel estávamos sempre em desvantagem. O quintal de terra batida, abrigava vários moradores, alguns cães, gatos, galinhas, galos, pintinhos, porco..... Logo vimos um morador diferente, era um peru. Glu, glu, glu, glu, glu, glu, glu, glu.
Dona Nega veio logo avisar, cuidado com esse bicho ele não é bom da cabeça. Fiquei assustada, bonito ele não era. Era quase do meu tamanho, não gostei nada disso! Passei a andar somente ao lado de quem era maior que eu, assim me sentia mais segura mas estava sempre vigiando o peru.
Sentava na porta da cozinha que ficava virada para o quintal eu observava o movimento dos moradores daquele lugar. O galo era o primeiro a levantar e acordava a todos, todos os dias. Sempre atento punha ordem no terreiro. As galinhas eram as mais simpáticas, algumas pareciam sorrir pra mim, as que eram mães eram muito metidas, andavam empinadas com uma penca de pintinhos ao redor, não deixavam que a gente chegasse perto. De vez em quando dona Nega pegava um pintinho pra gente passar a mão e a galinha mãe ficava lá resmungando e brigando, mas logo devolvíamos. Os cães eram curiosos, queriam nos conhecer, nos cheirar, não eram bravos eu tinha medo deles, mas eles nos respeitavam, só queriam ser amigos e estar juntos da gente. Os porcos ficavam no chiqueiro, mas de vez em quando apareciam no quintal pra dar umas voltinhas. Os gatinhos eram muito engraçadinhos se esfregavam em nossas pernas, mas não podíamos estar com eles, porque éramos alérgicas ao pelo deles, minha mãe não gostava que eles ficassem perto da gente. O peru era engraçado ia de um lado ao outro muito desengonçado, ninguém queria muito papo com ele, vi um dos cães correr atrás dele, acho que não era muito compreendido pelos outros moradores, às vezes era metido abria suas asas querendo aparecer, até junto com os de sua espécie costumava discutir. Prestava muita atenção nele, ele não sabia onde ir, rodava pra lá e pra cá, gritava seu glu, glu, glu, sem parar. Quando ele estava longe me arriscava a andar pelo quintal, quando ele se aproximava corria pra cozinha.
Me deu vontade de ir ao banheiro, pedi minha mãe pra me levar, ela estava ocupada com a dona Nega, preparando uma pamonha. Então resolvi ir sozinha, me empinei pra ficar mais alta, fiz de conta que o peru não existia, cheguei até o banheiro sem nenhum problema. Na volta, fiz a mesma coisa, só que não funcionou o bicho me viu de longe e veio correndo ao meu encontro, comecei a correr e gritar, dei umas duas voltas em círculo e ele vinha atrás de mim. Dona Nega veio logo me socorrer, me pegou no colo e ameaçou o peru com um pedaço de pau, que saiu correndo sumindo no pomar.
Depois do susto, começamos a rir, na hora não teve graça, mas depois, ríamos sempre que lembrávamos do acontecido.
Há pouco tempo descobri que também existe homem peru tonto. Normalmente ele tem mais de 40 anos, chega sempre chamando atenção, te olha de cima em baixo analisando suas curvas, sem se preocupar se é comprometida ou não. Logo se expõe é sempre bem sucedido, aventureiro e se mostra ser tudo de bom, geralmente é casado e pensa ser um excelente pai, o pai legal, firme quando tem que ser firme e divertido na hora certa. O discurso deles é sempre contraditório, conseguem ir do norte, ao sul, a leste e a oeste, em um curtíssimo espaço de tempo. Eles não tem lado e se achar que você é uma pessoa interessante começa a te cortejar, ao mesmo tempo que fala da esposa e dos filhos. Quando percebo isso começo logo a pedir socorro e digo frases como: “Sangue de Cristo tem poder e misericórdia”, “Só Jesus”. E ai começo a rir por dentro. A primeira pergunta é sempre assim:
Você é protestante?
E quando digo que sou católica, pronto, é a abertura para uma enxurrada de asneiras. Sou obrigada a ouvir que todo padre é gay, que a igreja rouba, que todo fiel é fanático e um montão de outras asneiras. Quando eles percebem que não dou muita atenção, ai eles dão aula de astrologia, de modos de vida zen, alguns confessam que maconha é legal. E por aí vai! Ao final só me resta rir e ainda fico com pena desse bicho tonto. O que mais me impressiona é que eles tem esposa e filhos. Conseguem destruir seus casamentos e abandonar seus filhos à procura de uma falsa felicidade. A única coisa que sempre faço é pedir a Deus que dê um jeito neles, que lhes abra os olhos e que eles vejam que a felicidade está muito mais próxima deles, do que eles pensam. E sabe, isso não acontece somente com os homens não, também já vi mulher tonta por aí. Que pena! Quem mais sofre com isso são os filhos.


“Esse indivíduo se alimenta de cinzas, as fantasias de sua mente fazem-no perder o rumo, não consegue salvar a própria vida, é incapaz de dizer: Não será mentira o que tenho nas mãos?” (Isaías 44, 20)

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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Andando pela França, de minha amiga Beatriz Lobo

Andando pela França, tropeço a todo momento em Minas Gerais. Certos detalhes na arquitetura das casas me levam à casa da minha avó. Janelas grandes de madeira que se abrem para fora e janelas de vidro que se abrem para dentro. Piso de madeira, no barulho dos meus passos me transporto para o corredor daquela casa que parecia não ter fim, ia da sala à cozinha correndo, passava por fotos antigas, cristaleira que guardava coisas que não podíamos tocar, somente ver, pássaros, papagaios, cachorros e gente muita gente, saíamos atropelando a todos, às vezes éramos barrados pelos adultos que nos pegavam para nos dar beijos e abraços ou nos olhavam com olhares que fingiam ser de reprovação. Essa era a casa da Dindinha, minha avó que não gostava de ser chamada de vó.
A Dindinha estava sempre nos esperando com uma pinha madura, colhida no quintal ou com suas deliciosas balas delícias, que muitas vezes a presenciei fazendo. Aquele cheiro, hum....... que se desprendia de um creme borbulhando em um tacho de cobre, sobre o fogão de ferro alimentado por lenha. Depois do ponto, essa massa era espalhada ainda quente, sobre um pedaço de pedra já gasta pelo tempo e pelas infinitas massas ali derramadas. Essa pedra ficava na ponta de uma mesa comprida, onde eram servidas as refeições. À medida que o creme ia esfriando ela ia juntando com as mãos, até formar um bolo de massa branca. Admirava sua força para bater aquela massa branca na pedra, e depois de todo aquele puxa e bate. Finalmente. A hora mais esperada, ela esticava a massa fazendo tiras compridas e depois com uma enorme tesoura cortava em pequenos pedaços. Nem preciso dizer que a primeira era minha, quentinha e ainda mole, mastigava como chiclete, aquele doce de coco inesquecível. Tudo faz parte de mim agora. Marcas que ela deixou em mim.
A culinária francesa me lembra muito a culinária de Minas. A forma como conservam o “confit” de pato, dentro da banha do pato, é muito parecida com a nossa carne de porco que conservamos em latas dentro da banha do porco. O “coc au vin” que é a galinha cozida no vinho tinto, me lembra a nossa galinha ao molho pardo que era nossa comida de domingo, acompanhada de angu e couve. Também cozido no vinho tinto, o “boeuf bourguignon”, me lembra muito os nossos cozidos de carne de boi com legumes. Os suflês que delícia!!!! São pratos encontrados facilmente na culinária francesa. Minha mãe fazia suflês deliciosos, de chuchu, couve flor, cenoura, batatas e até do que sobrou, ela inventava e ficavam fantásticos. Os crepes que se comem nas ruas de Paris, me lembram as panquecas que nós mesmos fazíamos para lanchar, com variados recheios. Receita aprendida com nossos vizinhos, os Padres Holandeses.
A quantidade de igrejas que existem na França não me deixa esquecer a religiosidade dos mineiros.
O que me leva à França, é o vinho. Acompanhamento perfeito para toda essa culinária maravilhosa. Bebida que comecei a apreciar em Minas Gerais. Em Minas somos incentivados a vivenciar a arte, na França tudo é arte. O estilo do povo, sua língua, sua cultura, a culinária, o vinho, a natureza harmonizada com a arquitetura da cidade, seus queijos, pães, monumentos, pontes, igrejas, museus,....... a cada passo descobrimos uma obra de arte. Agora descubro que andar pela França com os amigos e dividir tudo isso é maravilhoso. Cada vez que vou à França descubro detalhes que me conquistam ainda mais.
E um viva à França e aos Mineiros também, Uai!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Homens Maduros, de Zélia Gatai

Há uma indisfarçável e sedutora beleza

na personalidade de muitos Homens

que hoje estão na idade madura.

É claro que toda regra tem suas exceções,

e cada idade tem o seu próprio valor.

Porém, com toda a consideração e respeito

às demais idades, destacaremos aqui

uma classe de Homens que são

companhias agradabilíssimas:

Os que hoje são quarentões,

cinquentões e sessentões.

Percebe-se com uma certa facilidade,

a sensibilidade de seus corações,

a devoção que eles tem pelo que

há de mais belo:

O sentimentalismo.

Eles são mais inteligentes, vividos,

charmosos, eloqüentes. Sabem o que falam,

e sabem falar na hora certa. São cativantes,

sabem se fazer presentes, sem incomodar.

Sabem conquistar uma boa amizade.

Em termos de relacionamentos,

trocam a quantidade pela qualidade,

visão aguçada sobre os valores da vida,

sabem tratar uma mulher com respeito e carinho. São Homens especiais, românticos, interessantes e atraentes pelo que possuem na sua forma de ser, de pensar, e de viver. Na forma de encarar a vida, são mais poéticos, mais sentimentais, mais emocionais e mais emocionantes.

Homens mais amadurecidos

têm maior desenvoltura no trato

com as mulheres, sabem reconhecer

suas qualidades, são mais espirituosos,

discretos, compreensivos e mais educados.

A razão pela qual muitos Homens maduros

possuem estas qualidades maravilhosas

deve-se a vários fatores:

A opção de ser e de viver de cada um, suas personalidades, formação própria e familiar, suas raízes, sabedoria, gostos individuais, etc... Mas eu creio que em parte, há uma boa parcela

de influência nos modos de viver de uma época, filmes e músicas ouvidas e curtidas deixaram boas recordações de sua juventude. Um tempo não tão remoto,

mas que com certeza, não volta mais.

Viveram sua mocidade

(época que marca a vida de todos nós)

em um dos melhores períodos do nosso tempo: Os anos 60/70. Considerados as "décadas de ouro" da juventude, quando o romantismo foi vivido

e cantado em verso e prosa.

A saudável influência de uma época,

provocada por tantos acontecimentos importantes, que hoje permanecem na memória e que mudaram a vida de muitos.

Uma época em que

o melhor da festa era dançar coladinho,

e namorar ao ritmo suave das baladas românticas. O luar era inspirador,

os domingos de sol eram só alegrias.

Ouviam Beatles, Johnny Mathis, Roberto Carlos, Antônio Marcos, The Fevers, Golden Boys, Bossa Nova, Morris Albert, Jovem guarda e muitos outros que embalaram suas "Jovens tardes de domingo, quantas alegrias!

Velhos tempos, belos dias."

Foram e ainda são os Homens que mais

souberam namorar: Namoro no portão, aperto de mão, abraços apertadinhos, com respeito e com carinho.

Olhos nos olhos tinham mais valor...

A moda era amar ou sofrer de amor.

Muitos viveram de amor...

Outros morreram de amor...

Estes Homens maduros de hoje,

nunca foram Homens de "ficar".

Ou eles estavam namorando firme,

ou estavam na "fossa", ou estavam sozinhos. Se eles "ficassem",

ficariam para sempre...

ao trocar alianças com suas amadas.

Junto com Benito de Paula,

eles cantaram a "Mulher Brasileira, em primeiro lugar!"

A paixão pelo nosso país, era evidente quando cantavam:

" As praias do Brasil, ensolaradas, no céu do meu Brasil,

mais esplendor... A mão de Deus, abençoou,

Mulher que nasce aqui, tem muito mais Amor...

Eu te amo, meu Brasil, Eu te amo...

Ninguém segura a juventude do Brasil...

sil... sil... sil..."

A juventude passou, mas deixou "gravado" neles, a forma mais sublime e romântica de viver. Hoje eles possuem uma "bagagem" de conhecimentos, experiências, maturidade e inteligência que foram acumulando com o passar dos anos.

O tempo se encarregou de distingui-los dos demais: Deixando os seus cabelos

cor-de-prata, os movimentos mais suaves,

a voz pausada, porém mais sonora.

Hoje eles são Homens que marcaram uma época.

Muitos deles hoje "dominam" com habilidade e destreza essas máquinas virtuais, comprovando que nem o avanço da tecnologia lhes esfriou os sentimentos pois ainda se encantam com versos, rimas, músicas e palavras de amor.

Nem diminuiu-lhes a grande capacidade de amar, sentir e expressar os seus sentimentos. Muitos tornaram-se poetas, outros amam a poesia.

Por que o mais importante não é a idade denunciada nos detalhes de suas fisionomias, e sim os raros valores de suas personalidades.

O importante é perceber que

os seus corações permanecem jovens...

São homens maduros, e que nós, mulheres de hoje, temos o privilégio de poder admirá-los.

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