Dizes-me: tu és mais alguma cousa Que uma
pedra ou uma planta. Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes. Então as pedras escrevem
versos? Então as plantas têm idéias sobre o mundo?
Sim: há diferença. Mas não é a
diferença que encontras; Porque o ter consciência não me obriga
a ter teorias sobre as cousas: Só me obriga a ser
consciente.
Se sou mais que uma pedra ou uma
planta? Não sei. Sou diferente. Não sei o que é mais ou
menos.
Ter consciência é mais que ter
cor? Pode ser e pode não ser. Sei que é
diferente apenas. Ninguém pode provar que é mais que só
diferente.
Sei que a pedra é a real, e que a
planta existe. Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram. Sei que
sou real também. Sei isto porque os meus sentidos mo
mostram, Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a
planta. Não sei mais nada.
Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve
versos. Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta
nenhumas. Mas é que as pedras não são poetas, são
pedras; E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior. Mas não digo
isso: digo da pedra, "é uma pedra", Digo da planta, "é uma
planta", Digo de mim, "sou eu". E não digo
mais nada. Que mais há a dizer?
(Inéditas", "Obra Completa", Ed. Aguilar, 1960,
pag.365)
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