quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Gargalhada, de Guimarães Rosa

Quando me disseste que não mais me amavas,

e que ias partir,

dura, precisa, bela e inabalável,

com a impassibilidade de um executor,

dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias...

Mas olhei-te bem nos olhos,

belos como o veludo das lagartas verdes,

e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos,

tive pena de ti, de mim, de todos,

e me ri

da inutilidade das torturas predestinadas,

guardadas para nós, desde a treva das épocas,

quando a inexperiência dos Deuses

ainda não criara o mundo...


(in "MAGMA", Editora Nova Fronteira, 1997)

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2 comentários:

DERLY. disse...

além de tudo ainda era poeta,não conhecia nada a respeito,abraço,ronaldo.

Paulinha disse...

Excelente poema! Utilizei em meu blog http://papoprivada.blogspot.com/. Ótimo blog, parabéns!