domingo, 4 de janeiro de 2009

Lenda do Pégaso, de Jorge Mautner

Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio
Que não sabia o que era, nem de onde veio
Então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era
Voando, voando com as asas, asas da quimera
Sonhava ser uma gaivota porque ela é linda e todo mundo nota
E naquela pretensão queria ser um gavião
E quando estava feliz queria ser a misteriosa perdiz
E vejam então que vergonha quando quis ser a sagrada cegonha



E com a vontade esparsa sonhava ser uma linda garça
E num instante de desengano queria apenas ser um tucano
E foi aquele, aquele tititi quando quis ser um colibri
Por isso lhe pisaram o calo aí então cantou de galo
Sonhava com a casa de barro, a do João de Barro e ficava triste
Tão triste assim como tu querendo ser o sinistro urubu
E quando queria causar estorvo então imitava o sombrio corvo

E até hoje ainda se discute se é mesmo verdade que virou abutre

E quando já estava querendo aquela paz dos sabiás
Cansado de viver na sombra, voar, revoar feito a linda pomba
E ao sentir a falta de um grande carinho, então cansava feito um passarinho
E assim o passarinho feio quis ser até o pombo-correio
Aí então Deus chegou e disse: "Pegue as mágoas
Pegue as mágoas e apague-as, tenha o orgulho das águias"
Deus disse ainda: "é tudo azul", e o passarinho feio virou cavalo voador
Esse tal de pégaso
Pégaso, Pégaso, Pégaso, Pégaso
Pega o azul, pega o azul

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