terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Embriague-se, de Charles Beaudelaire

Devemos andar sempre bêbados.
Tudo se resume nisto: é a única solução.
Para não sentires o tremendo fardo do tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar.
Mas com quê?
Com vinho, com poesia ou com a virtude, a teu gosto.
Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas duma vala,
na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que se passou, a tudo o que gemeu,
a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são:
“São horas de te embriagares!”.
Para não seres como os escravos martirizados do tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar!
Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto.



(Livre tradução por mim, portanto, releve alguma coisa.)

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