quarta-feira, 23 de junho de 2010

Entre o ser e as coisas, de Carlos Drummond de Andrade

“Onda e amor, onde amor, ando indagando
ao largo vento e à rocha imperativa,
e a tudo me arremesso, nesse quando
amanhece frescor de coisa viva.

Às almas, não, as almas vão pairando,
e, esquecendo a lição que já se esquiva,
tornam amor humor, e vago e brando
o que é de natureza corrosiva.

N’água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

E nem os elementos encantados
sabem do amor que os punge e que é, pungindo,
uma fogueira a arder no dia findo.”.



(in OBRA COMPLETA / POESIA /CLARO ENIGMA / NOTÍCIAS AMOROSAS, Ed. Aguilar, 1964, pag. 247)


.

Nenhum comentário: