terça-feira, 24 de agosto de 2010

John F. Kennedy, discurso de posse (e que sirva de exemplo!)

Elaborado por Ted Sorensen, seu assessor:

“Celebramos hoje não a vitória de um partido, mas a comemoração da liberdade - simbolizando um fim, assim como um começo - significando renovação assim como mudança. O mundo está muito diferente agora. O homem possui em suas mãos mortais o poder de abolir todas as formas de pobreza humana e todas as formas de abolir a vida humana.
Ao mesmo tempo, os mesmos valores revolucionários, pelos quais nossos antepassados lutaram, ainda estão em disputa por toda a terra: a crença de que os direitos humanos não provêm de uma generosidade do Estado, mas das mãos de Deus. Nós não ousamos esquecer hoje que somos os herdeiros daquela primeira revolução.
Que a mensagem se espalhe, deste tempo e lugar, para amigos e inimigos, que a tocha passou para uma nova geração de americanos - nascidos neste século, temperados pela guerra, disciplinados por uma paz dura e amarga, orgulhosos da sua herança - que não está disposta a assistir ou permitir a gradativa destruição destes direitos humanos, aos quais esta Nação foi dedicada, e em relação aos quais nós estamos comprometidos hoje, na nossa casa e no resto do mundo.
Que cada nação saiba, tanto as que nos desejam o bem, quanto as que nos desejam o mal, que nós pagaremos qualquer preço, suportaremos qualquer carga, enfrentaremos quaisquer sacrifícios, que apoiaremos qualquer nação amiga, nos oporemos a qualquer nação inimiga, a fim de garantir a sobrevivência e o sucesso da liberdade.
Com isto nos comprometemos - e mais ainda. Aqueles antigos aliados, com os quais compartilhamos as mesmas origens espirituais e culturais, nós oferecemos a garantia da lealdade de amigos fiéis. Unidos, há muito pouco que não possamos fazer numa ampla escala de empreendimentos cooperativos. Divididos, pouco poderemos fazer para enfrentar um poderoso desafio.
Aqueles novos estados, aos quais nós saudamos pelo ingresso nas fileiras das nações livres, nós oferecemos a nossa palavra em penhor de que uma forma de controle colonial não desapareceu, apenas para ser substituída por uma outra tirania. Nós não esperaremos que eles apóiem sempre nossa maneira de ver as coisas. Mas nós temos a esperança que eles sempre estarão dispostos a defender a sua liberdade.
Àquelas pessoas nos casebres e vilas por todo o globo, lutando para romper com as cadeias da miséria em massa, nós comprometemos os nossos melhores esforços para ajudá-los a se ajudarem, por qualquer tempo que seja requerido - não porque os comunistas possam estar fazendo isto, não porque estejamos em busca de seus votos, mas porque é justo. Se uma sociedade livre não pode ajudar os muitos que são pobres, ela não pode salvar os poucos que são ricos.
Às nossas repúblicas irmãs, ao sul das nossas fronteiras, nós oferecemos um compromisso especial - converter nossas boas palavras em boas ações, numa nova aliança para o progresso - afim de que possamos auxiliar homens livres e governos livres a sacudir e livrar-se das amarras da pobreza. Mas esta revolução pacífica da esperança não pode tornar-se presa de poderes hostis.
Que os nossos vizinhos saibam que nos uniremos a eles para nos opormos à agressão e à subversão em qualquer lugar nas Américas. E que qualquer outro poder saiba que este hemisfério pretende manter-se dono de sua própria casa.
Que aquela Assembléia Mundial de estados soberanos, as Nações Unidas, nossa última e melhor esperança numa era onde os instrumentos de guerra e destruição tornaram-se muito mais poderosos que os instrumentos de paz, nós renovamos o nosso compromisso de apoio, para evitar que ela se reduza a um fórum de acusações, e para reforçar o seu escudo de defesa dos novos e fracos, e expandir as áreas nas quais as suas normas sejam respeitadas.
Finalmente, para aquelas nações que decidiram tornar-se nossas adversárias, nós oferecemos não um compromisso, mas um pedido: que ambos os lados começam novamente a busca pela paz, antes que os negros poderes da destruição, desenvolvidos pela ciência engolfem toda a humanidade numa auto-destruição planejada ou acidental.
Nós não permitiremos que eles sejam tentados por nossa fraqueza. Somente quando nossas armas forem suficientes, além de qualquer dúvida, é que nós poderemos estar certos, além de qualquer dúvida que elas não serão usadas. Mas tampouco podem os dois grandes e poderosos grupos de nações sentirem qualquer conforto na sua presente condição. Ambos os lados estão sobrecarregados com os custos das armas modernas, ambos justificadamente alarmados pela rápida difusão do átomo mortal, e assim mesmo, ambos empenhados numa corrida para alterar aquele incerto equilíbrio de terror que precariamente impede a eclosão da guerra final da humanidade.
Vamos então começar mais uma vez - recordando, ambos os lados, que a civilidade não é sinal de fraqueza e a sinceridade está sempre sujeita a prova. Que nunca negociemos motivados pelo medo. Mas que nunca tenhamos medo de negociar. Que ambos os lados explorem quais os problemas que podem nos aproximar ao invés de aprofundar aqueles que podem nos separar. Que ambos os lados, pela primeira vez, formulem propostas sérias e concretas para a inspeção e controle de armas, trazendo o poder absoluto de destruir outras nações sob o controle absoluto de todas as nações.
Que ambos os lados procurem invocar as maravilhas da ciência, ao invés dos seus terrores. Juntos vamos explorar as estrelas, conquistar os desertos, erradicar doenças, pesquisar as profundezas do oceano, e encorajar as artes e o comércio. Que ambos os lados se unam para ouvir em todos os quadrantes da terra, as palavras de Isaías: "Removei as pesadas cargas... deixai os oprimidos ser livres".
Nada disso será concluído nos primeiros cem dias. Nem nos primeiros mil dias, nem mesmo durante o mandato desta administração, nem, quem sabe, durante o nosso tempo de vida neste planeta. Mas vamos começar. Nas vossas mãos, meus concidadãos, mais do que na minha, reside o sucesso ou o fracasso deste curso de ação.
Desde que este país foi fundado, cada geração de americanos foi convocada para dar testemunho de sua lealdade à nação. Os túmulos de jovens americanos que responderam ao chamado espalham-se por todo o globo.
Agora a trombeta nos convoca novamente - não uma chamada para portar armas, embora de armas precisemos; não uma chamada para a batalha, embora estejamos ainda entrincheirados - mas uma chamada para carregar o peso de uma longa e incerta luta, ano após ano, "regozijando-nos na esperança, pacientes nas tribulações"- uma luta contra os inimigos comuns da humanidade: a tirania, a pobreza, a doença e a própria guerra.
Na longa história da humanidade, somente a umas poucas gerações foi atribuído o papel de defender a liberdade nas suas horas de máximo perigo. Eu não me atemorizo com esta responsabilidade - eu a recebo de bom grado. Eu não creio que nenhum de nós aceitaria trocar de lugar com qualquer outro povo, ou com qualquer outra geração. A energia, a fé, a devoção que nós trouxermos para esta tarefa iluminará nosso país e todos os que servem a ele - e o brilho deste fogo pode verdadeiramente iluminar o mundo.
Por isso, meus irmãos americanos, não perguntem o que o seu país pode fazer por vocês. Perguntem o que vocês podem fazer pelo seu país. Meus irmãos do mundo: não perguntem o que a América fará por vocês, mas o que juntos podemos fazer pela liberdade do homem”.


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