segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Traduzir-se, do meu amigo Ferreira Gullar

(É hora de ler novamente, minha observação)






"Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.


Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.


Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.


Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.


Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.


Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.


Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?"




("Na Vertigem do Dia", in Jornal de Poesia)


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