domingo, 1 de julho de 2012

GARGALHADA , de Cecilia Meireles




Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!


Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.


Dobra essa orelha grosseira, e escuta


o ritmo e o som da minha gargalhada:




Ah! Ah! Ah! Ah!


Ah! Ah! Ah! Ah!



Não vês?


É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.


Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,


vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,


destruir as lâmpadas, abater cúpulas,


e atirar para longe os pandeiros e as liras...



O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.



Mas é preciso ter baixelas de ouro,


compreendes?


— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.


E as lâmpadas, Deus do céu!


E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...




Escuta bem:




Ah! Ah! Ah! Ah!


Ah! Ah! Ah! Ah!



Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:


do céu que venta,


do mar que dança,


e de mim.



("Antologia Poética" , Ed. Nova Frronteira, 2008 , 3a. Edição)


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Um comentário:

Rossana disse...

Amei, esta provavelmente Cecília não escreveu para mim, mas Luiz Edmundo, Mundinho reescreu-a para mim. É isso que a poesia faz: gira pelo mundo cruzando as fantasias e o real de cada um, enquadrando-os num e outro. Isso é realmente espetacular!!