quarta-feira, 1 de agosto de 2012

SAUDADE, de Pablo Neruda




Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo



em dicionários antigos e poeirentos


e noutros livros onde não achei o sentido


desta doce palavra de perfis ambíguos.






Dizem que azuis são as montanhas como ela,


que nela se obscurecem os amores longínquos,


e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)


a nomeia num tremor de cabelos e mãos.






Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,


seu segredo se evade, sua doçura me obceca


como uma mariposa de estranho e fino corpo


sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.






Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado


desta palavra branca que se evade como um peixe?


Não... e me treme na boca seu tremor delicado...


Saudade...






( "Crepusculário" , tradução de Rui Lage , Ed. Civilização Brasileira, 1974)


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