sexta-feira, 5 de outubro de 2012

RETRATO ARDENTE, de Eugénio de Andrade




Entre os teus lábios 
é que a loucura acode, 
desce à garganta, 
invade a água.
No teu peito 
é que o pólen do fogo 
se junta à nascente, 
alastra na sombra.
Nos teus flancos 
é que a fonte começa 
a ser rio de abelhas, 
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos 
é que a areia queima, 
o sol é secreto, 
cego o silêncio.
Deita-te comigo. 
Ilumina meus vidros. 
Entre lábios e lábios 
toda a música é minha

.

Nenhum comentário: