terça-feira, 4 de agosto de 2009

A terra, de Pablo Neruda

A terra verde se entregou
a tudo o que é amarelo, ouro, colheitas,
torrões, folhas e grão,
quando, porém, o outono se levanta
com seu longo estandarte
és tu a quem eu vejo,
é para mim a tua cabeleira
a que reparte as espigas.

Eu vejo os monumentos
de antiga pedra rota,
porém se toco
a cicatriz de pedra
teu corpo me responde,
meus dedos reconhecem
de pronto, estremecidos,
tua quente doçura.

Passo por entre heróis
recém-condecorados
pela pólvora e a terra
e detrás deles, muda,
com teus pequenas passos,
és ou não és?

Ontem, quando arrancaram
com raiz, para vê-lo,
a velha árvore anã,
te vi sair me olhando
de dentro das sedentas,
torturadas raízes.
E quando o sono vem
e me estende e me leva
a meu próprio silêncio,
há um grande vento branco
que derruba meu sono
e dele caem as folhas,
caem como punhais,
punhais que me dessangram.

Cada ferida tem
a forma de tua boca.


(in Versos do Capitão
Tradução de Thiago de Mello)

.

Um comentário:

M.C.L.M disse...

"meus dedos reconhecem
de pronto, estremecidos,
tua quente doçura..."

Genial Neruda!!



Caro amigo, que saudades de tu!!
Estás em minhas orações, desejo seu pronto restabelecimento, e que ainda possas entregar-me este ano a encomenda...

beijos meu querido!!

PS: Falta um pouco de mim em sua página... escolha algo no Poetar. Há de encontrar algo por lá que te faça um beliscão no coração, ou uma sacudida n'alma!

Márcia Magalhães