segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sou Eu, de Fernando Pessoa, como Alvaro de Campos

SIM, SOU EU, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou aqui em mim, sou eu.

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
... Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões da vida.

Sou eu mesmo, que remédio!...



(in “Ficções do Interlúdio”, “Obra Poética”, Ed. José Aguilar, 1960, pág. 349/350)

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