terça-feira, 17 de julho de 2012

TRADUZIR-SE , do amigo Ferreira Gullar





(De novo ? , peguntará alguém . Sim , e sempre !)



Uma parte de mim


é todo mundo:


outra parte é ninguém:


fundo sem fundo.






Uma parte de mim


é multidão:


outra parte estranheza


e solidão.






Uma parte de mim


pesa, pondera:


outra parte


delira.






Uma parte de mim


almoça e janta:


outra parte


se espanta.






Uma parte de mim


é permanente:


outra parte


se sabe de repente.






Uma parte de mim


é só vertigem:


outra parte,


linguagem.






Traduzir uma parte


na outra parte


— que é uma questão


de vida ou morte —


será arte?










("Na Vertigem do Dia", in Jornal de Poesia)



.

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