domingo, 15 de julho de 2012

QUE ESTE AMOR , de Hilda Hilst




Que este amor não me cegue nem me siga.


E de mim mesma nunca se aperceba.


Que me exclua de estar sendo perseguida


E do tormento


De só por ele me saber estar sendo.






Que o olhar não se perca nas tulipas


Pois formas tão perfeitas de beleza


Vêm do fulgor das trevas.






E o meu Senhor habita o rutilante escuro


De um suposto de heras em alto muro.


Que este amor só me faça descontente


E farta de fadigas. E de fragilidades tantas


Eu me faça pequena. E diminuta e tenra


Como só soem ser aranhas e formigas.


Que este amor só me veja de partida.










(Extraído do livro: "Traduções Necessárias", Ed. Civilização Brasileira, 1981, pág. 90)