quinta-feira, 30 de agosto de 2012

NOSSO TEMPO , de Carlos Drummond de Andrade




Por ocasião de cada eleição, principalmente nos momentos que a precede, costumo colocar esse exepcional poema do nosso Drummond à reflexão das pessoas de boa fé ! É o que faço nesse momento! E sugiro a leitura de sua integralidade.


Este é tempo de partido,

Tempo de homens partidos.



Em vão percorremos volumes,

viajamos e não colorimos.

A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.

Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.

As leis não bastam. Os lírios não nascem

da lei. Meu nome é tumulto e escreve-se

na pedra.



Visito os fatos, não te encontro.

Onde te ocultas, precária síntese,

penhor de meu sono, luz

dormindo acesa na varanda?

Miúdas certezas de empréstimo, nenhum beijo

Sobe ao ombro para contar-me

As cidades dos homens completos.



Calo-me, espero, decifro.

As coisas talvez melhorem.

São tão fortes as coisas!



Mas eu não sou as coisas e me revolto.

Tenho palavras em mim buscando canal,

são roucas e duras,

irritadas, enérgicas,

comprimidas há tanto tempo, perderam o sentido,

apenas querem explodir.





( “A ROSA DO POVO”, Companhia Aguilar Editora, 1964, pag. 144)


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