Pretendo com este modesto blog compartilhar com os amigos as minhas algumas criações e estimular a leitura de grandes obras de arte, comentários sobre museus e viagens, restaurantes e uma série de coisas boas. Garanto que você vai gostar, mais ou menos, mas vai !
terça-feira, 31 de julho de 2012
SAUDÁVEL LOUCURA , texto de Lygia Fagundes Telles
“Solução melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos não precisaremos desses sanatórios porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas. Sem despesas.”
(Revista da ABL , n. 143 , 1994)
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segunda-feira, 30 de julho de 2012
INSENSATEZ ?
Jamais quis certezas...
Jamais quis definições...
Jamais quis nada que limitasse meus gestos, meus sentidos , minha cadência...
Sempre quis SER...
Quero SENTIR !
Quero a loucura do tempo que vier , que puder e, de preferência cheio de situações consideradas impossíveis...
QUERO MESMO É VOCÊ , MINHA DOCE INSENSATEZ !!!
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domingo, 29 de julho de 2012
POEMA DE AMOR
Há muito tempo já não escrevo um poema
de amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A minha natureza mineira tem essa humana graça
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça bebedeira !
Mas ou seja que porque vou amadurecendo
E me deseje apaixonado
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor...
- Há muito tempo já que não escrevo um poema de amor !
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sexta-feira, 20 de julho de 2012
SEDUÇÃO , de Bruna Lombardi
Dentro de mim mora o animal
indômito e selvagem
que talvez te faça mal
talvez uma faísca
relâmpago no olhar
depressa como um susto
me desmascare o rosto
e de repente deixe exposto
o meu pior
em mim germina
uma força perigosa
que contamina
uma paixão vulgar
que corta o ar e que
nenhum poder domina
explode em mim
uma liberdade que te fascina
sopro de vida
brilho que se descortina
luz que cintila, lantejoula
purpurina
fugaz como um desejo
talvez te mate
talvez te salve
o veneno do meu beijo.
("Bruníssima", Ed. Nova Fronteira, 2003)
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quinta-feira, 19 de julho de 2012
A SOMBRA DO HOMEM QUE SORRIU, de Carlos Drummond de Andrade
Ah! que os tapetes não guardem
a sombra inútil dos meus passos…
Eu quero ser, apenas,
um homem que sorriu e que passou,
erguendo a sua taça, com desdém.
("Inéditos" , de Carlos Drummond de Andrade , Ed. Compamhia das Letras , 2012)
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quarta-feira, 18 de julho de 2012
Saudade e Fome , de Clarice Lispector
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
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terça-feira, 17 de julho de 2012
TRADUZIR-SE , do amigo Ferreira Gullar
(De novo ? , peguntará alguém . Sim , e sempre !)
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
("Na Vertigem do Dia", in Jornal de Poesia)
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domingo, 15 de julho de 2012
QUE ESTE AMOR , de Hilda Hilst
Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua de estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.
(Extraído do livro: "Traduções Necessárias", Ed. Civilização Brasileira, 1981, pág. 90)
sábado, 14 de julho de 2012
AMOR E SEU TEMPO , de Carlos Drummond de Andrade
Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe
valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.
("Antologia Poética" , Ed. Nova Fronteira , 1999)
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sexta-feira, 13 de julho de 2012
PRECE , de Jorge Luis Borges
Parar para pensar,
Parar para olhar,
Parar para escutar,
Pensar mais devagar,
Olhar mais devagar,
Escutar mais devagar,
Parar para sentir,
Sentir mais devagar,
Demorar-se nos detalhes,
Suspender a opinião,
Suspender o juízo,
Suspender a vontade,
Suspender o automatismo da ação,
Cultivar a atenção e a delicadeza,
Abrir os olhos e os ouvidos,
Falar sobre o que nos acontece,
Aprender a lentidão,
Escutar aos outros,
Cultivar a arte do encontro,
Calar muito,
Ter paciência
E dar-se tempo e espaço.
("Folha Ilustrada" de 29 de abril de 2001)
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Parar para pensar,
Parar para olhar,
Parar para escutar,
Pensar mais devagar,
Olhar mais devagar,
Escutar mais devagar,
Parar para sentir,
Sentir mais devagar,
Demorar-se nos detalhes,
Suspender a opinião,
Suspender o juízo,
Suspender a vontade,
Suspender o automatismo da ação,
Cultivar a atenção e a delicadeza,
Abrir os olhos e os ouvidos,
Falar sobre o que nos acontece,
Aprender a lentidão,
Escutar aos outros,
Cultivar a arte do encontro,
Calar muito,
Ter paciência
E dar-se tempo e espaço.
("Folha Ilustrada" de 29 de abril de 2001)
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quinta-feira, 12 de julho de 2012
ALMAS PERFUMADAS , de Carlos Drummond de Andrade
Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente
no balanço de uma rede que dança gostoso
numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente
comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce
da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade,
mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe
que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente
chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo
com o gozo de quem não liga pra isso.
Ao lado delas, pode ser abril,
mas parece manhã de Natal
do tempo em que a gente acordava e encontrava
o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas
que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos
acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha
que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando
um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de urso panda.
Tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia
do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta.
De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe
que a sensualidade é um perfume
que vem de dentro e que a atração
que realmente nos move não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra
que no instante em que rimos Deus está conosco,
juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro.
Tem gente como você que nem percebe
como tem a alma Perfumada!
E que esse perfume é dom de Deus.
CUIDE BEM DE SEU AMOR, SEJA QUEM FOR!
("Antologia Poética" , Companhia das Letras , 2009)
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quarta-feira, 11 de julho de 2012
ME ENCANTE , de Pablo Neruda
Me encante, para que eu possa me dar...
Me encante nos mínimos detalhes.
Saiba me sorrir: aquele sorriso malicioso,
Gostoso, inocente e carente.
Me encante com suas mãos,
Gesticule quando for preciso.
Me toque, quero correr esse risco.
Me acarinhe se quiser...
Vou fingir que não entendo,
Que nem queria esse momento.
Me encante com seus olhos...
Me olhe profundo, mas só por um segundo.
Depois desvie o seu olhar.
Como se o meu olhar,
Não tivesse conseguido te encantar...
E então, volte a me fitar.
Tão profundamente, que eu fique perdido.
Sem saber o que falar...
Me encante com suas palavras...
Me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres.
Me conte segredos, sem medos,
E depois me diga o quanto te encantei.
Me encante com serenidade...
Mas não se esqueça também,
Que tem que ser com simplicidade,
Não pode haver maldade.
Me encante com uma certa calma,
Sem pressa. Tente entender a minha alma.
Me encante como você fez com o seu primeiro namorado...
Sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas, com certeza.
Me encante na calada da madrugada,
Na luz do sol ou embaixo da chuva....
Me encante sem dizer nada, ou até dizendo tudo.
Sorrindo ou chorando. Triste ou alegre...
Mas, me encante de verdade, com vontade...
Que depois, eu te confesso que me apaixonei,
E prometo te encantar por todos os dias...
Pelo resto das nossas vidas!
("Poemas Escolhidos de Pablo Neruda" , Ed. Civilização Brasileira, 1979, tradução de Ferreira Gullar)
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segunda-feira, 9 de julho de 2012
EU TE AMO , de Adalgiza Nery
Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.
Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim,
suavemente...
(Publicado no jornal "Última Hora" , no dia 16 de agosto de 1965)
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domingo, 8 de julho de 2012
O TEMPO PASSA ? NÃO PASSA , de Carlos Drummond de Andrade
O tempo passa ? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.
O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.
Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.
O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.
São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora.
E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade.
("Poemas Escolhidos" , Ed. J. Oympio, 1971)
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sábado, 7 de julho de 2012
TERNURA , de Vinicius de Moraes
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não trai o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.
( in 'Antologia Poética' , Ed. Sabiá, 1972)
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sexta-feira, 6 de julho de 2012
MIMOSA BOCA ERRANTE , de Carlos Drummond de Andrade
Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.
Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?
Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.
Já sei a eternidade: é puro orgasmo.
("Poemas Eróticos" , Companhia das Letras, 2009)
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quinta-feira, 5 de julho de 2012
AINDA QUE MAL , de Carlos Drummond de Andrade
Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.
( "As impurezas do branco", Ed. Companhia da Terra , 2008, pág. 65)
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quarta-feira, 4 de julho de 2012
PEDAÇOS DE MIM , de Martha Medeiros
Eu sou feito de:
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos.
Sou feito de:
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão.
Sinto falta de:
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci.
Eu sou:
Amor e carinho constante
distraído até o bastante
não paro por um instante.
Já:
Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não prometidas.
Muitas vezes eu:
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar.
Eu sinto pelas:
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei.
Tenho saudade:
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.
(Caderno "Prosa e Verso" de "O GLOBO", 14 de março de 2008)
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terça-feira, 3 de julho de 2012
DELÍRIO E INSANIDADE
Nas noites que por estes dias eu passei
Me vi em delírios de amor e desejo
Você estava em tudo o que sonhei
Em minha boca, o gosto do teu beijo
Na cama o vazio ao meu lado
Tua imagem comigo estava
O travesseiro já amassado
Minha cama teu cheiro exalava
Como é possível amar assim?
Ignorando a ilusão e a realidade
Tenho você guardada em mim
És o motivo da minha insanidade
Nestes momentos, de solidão total
Meu coração sente tua presença
Mesmo você estando distante
Este amor que sinto por você, não há igual
É muito maior do que você pensa
Não lembro-me de ter amado assim antes.
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O AMOR QUANDO SE REVELA , de Fernando Pessoa
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
("Obra Completa" , O "Guardador de Rebanhos" , Ed. Aguilar, 1960)
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segunda-feira, 2 de julho de 2012
SAUDADES , de Clarice Lispector
Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...
Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...
Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...
Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...
Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...
Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.
Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!
Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!
Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!
Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.
Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...
Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!
Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!
Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,
Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.
Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...
Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.
Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.
Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.
Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.
E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.
Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...
(Revista da ABL nº 123, dezembro de 1979)
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